Nosso pai maior é Deus. A parábola que Ele escolheu para o
início do cristianismo, enviando seu filho para salvar a humanidade é
exatamente o que os pais tentam fazer com seus filhos, ou seja, trazê ao mundo
criá-los e educá-los de maneira que possam melhorar um pouco o lugar em que
vivem.
Falemos então de um “Pai Nosso” terreno...
Meu pai que está aqui junto de mim...
- Quantas noites, quando era bebê não gritei na solidão do
meu berço e a minha mãe, junto com meu pai, vieram me abraçar e beijar. Quantas
noites adoentado meu pai passou em claro medicando me, tirando minha febre o
tempo todo. Brincamos muito de circo, de espada, de futebol, de subir em
árvores. Lutamos com os travesseiros, pulamos em cima da cama. Nessa fase, na
infância, ele é o nosso herói. Observamos atentos cada atitude, cada gesto.
Essa observação aguda vai formar o nosso futuro caráter. Todas as vezes quando
eu tinha algum probleminha lá estava ele, ponderando, aconselhando e me
deixando tranquilo. Na adolescência seu sono era atrapalhado por outras coisas.
Levar-me na balada, quando eu pedia para me deixar longe da porta, para parecer
aos meus amigos que eu ia sozinho. Depois ir me buscar de madrugada. Quando
chegávamos em casa invariavelmente encontravamos minha mãe sentada na sala à
minha espera.
Dignificado seja o seu nome em qualquer lugar deste vasto mundo...
Quando fiquei adulto senti no seu olhar a satisfação por ter
cumprido a sua tarefa, que era tornar-me um homem de bem. Todos os seus sacrifícios,
eu percebia por seus olhares, que não tinham sido em vão. Era o que ele queria
que o nome do seu filho fosse respeitado assim como o seu havia sido.
Que nos seja dado hoje e sempre o prazer da sua companhia... E que a
gente possa satisfazer suas vontades...
Aos poucos fui sentindo que você era menos herói, mas muito
mais humano e compreensível, mais humilde, menos dono da verdade e fui sentindo
a necessidade de retribuir todo o seu carinho e sua proteção do passado. Era
preciso agora alguns cuidados para manter a sua presença. Insistir para você ir
ao médico, tomar agora os seus remédios, da mesma forma que você deu quando eu era criança. Às vezes chamar a
sua atenção e até repreendê-lo.
Peço perdão por ter sido às vezes tão irreverente, tão impaciente...
Por não ter ouvido alguns de seus conselhos. Insistir em dirigir
o carro sendo menor de idade. Trançar-me no quarto e ficar sem falar com você
por dias. Achar que você estava ficando “por fora”. Por não entender a lentidão
da velhice. Assisti a um vídeo que me mandaram por email que demonstra muito
bem essa impaciência. O pai já bem idoso sentado num banco de jardim, ao lado
do filho adulto que lê um jornal. Um pássaro pousa perto e o pai pergunta umas
três ou quatro vezes para o filho – O que é aquilo? O filho acaba perdendo a
cabeça e grita com o pai para ele parar de perguntar. O pai levanta-se vai até
a casa e trás um diário aberto. Pede ao filho - Leia em voz alta! O filho então
lê: Meu filho tinha três anos. Estávamos no jardim, quando um pássaro
pousou. Meu filho perguntou o que era
aquilo por vinte e três vezes... Eu respondi por todas as vezes e em cada
resposta o abracei carinhosamente. O filho chora e abraça com força o pai
idoso.
Assim como eu te perdoo por algumas injustiças que você fez comigo...
As suas broncas na hora errada, palmadas sem necessidade,
falta de tempo para ficar junto.
Não me deixe ir para caminhos errados e... Que Deus me livre da sua ausência...
Agora que você resolveu ir embora... Agora que você me
deixou sozinho... De onde você estiver, por favor, continue a cuidar de mim
como sempre...
Agora que eu sou pai estou querendo ser como você me
ensinou. Não é fácil! No mundo violento de hoje, sinto que está cada vez mais
difícil, proteger os nossos filhos. Temos que deixa-los fazer seu próprio
caminho, conforme nossa orientação. Sinto-me, mais ou menos, como a águia que,
num determinado momento empurra seu filhote do alto da montanha para que
aprenda a voar. Acho que eu consegui, modéstia a parte. Por isso, tomo a
liberdade, caro leitor, de transcrever um trecho de um texto dedicado a mim há
alguns anos atrás.
“Meu pai é um exemplo para mim. Guio-me por ele com a
segurança de que estou no caminho certo (...). A cada conversa sua serenidade
me acalma como um abraço gostoso (...). Desde pequeno foi assim, mesmo sem eu
saber... Por isso meu pai é meu professor. E por isso acho que o professor é
uma pessoa que vive dentro da gente... Obrigado pai, meu professor mais
importante!”
Obrigado vocês, meu filhos... Leandro...Sandro e... Ana
Cândida!
Amém!
Armando
Sérgio da Silva
Inverno de 2014