quinta-feira, 15 de maio de 2014

Obrigado Papa Francisco



Obrigado Papa Francisco
Entrei para a Cruzada Eucarística, aos sete anos, menos por religião e mais porque o ambiente era pleno de atividades interessantes para um garoto. Espectador privilegiado pude observar de perto, dos bastidores, todo o ritual fantástico da Santa Missa. Assistir a paramentação dos padres antes do ofício de domingo. Olhar de perto e atentamente, enquanto todos abaixavam as cabeças, o momento solene da consagração da hóstia, para mim, até hoje, o instante onde o padre mais acredita na encarnação de Jesus Cristo. O Sangue e o Corpo se materializando enquanto os sinos soavam... Eram momentos maravilhosos demais para uma criança.
Passei quase todo o resto de minha vida, meio distante da igreja. Como se não houvesse mais exemplos para que eu fosse habitualmente a um templo. Fui muito esporadicamente a uma missa ou outro evento qualquer. Sempre acreditando em Deus, entretanto distante de Cristo e da Igreja.
                        Dias atrás, entretanto liguei a TV e vi uma espécie de manto branco deslizando pela multidão. Era o Papa que visitava o Brasil. Quando vi seu carro preso em um engarrafamento estremeci pela sua segurança. Aos poucos fui me acalmando, quando vi seus braços, fora do automóvel, acenando para a multidão. Logo comecei a perceber que aquele para era um verdadeiro representante de Cristo. O Cristo que me ensinaram a amar e do qual eu tivera por longo tempo afastado.
Obrigado Papa Francisco por sua simplicidade. Por ter escolhido um carro popular, sem blindagem e ter andado pelas ruas com o vidro aberto! Pois foi exatamente assim que Cristo entrou em Jerusalém:
“No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel! E Jesus, tendo conseguido um jumentinho, montou-o, segundo está escrito: Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí vem, montado em um filho de jumenta”. —João 12:12-15
Depois disso, cada vez que eu o via ou ouvia ficava mais claro a sua semelhança com Cristo e com o seu padroeiro São Francisco de Assis.
Quando indagado por um repórter se ele não sentia medo? Respondeu: Eu não tenho medo, sou um pouco inconsciente. Ninguém morre na véspera. Quando Deus me chamar irei tranquilo.
Obrigado, Sua Santidade, por não ter medo! Vejam a fala de São Francisco de Assis:
“O que temer? Nada.
A quem temer? Ninguém.
Por quê? Porque aqueles que se unem a Deus obtém três grandes privilégios: onipotência sem poder; embriaguez, sem vinho e vida sem morte”.
E assim foram se repetindo os exemplos. Como o Santo não usou de toda pompa, dormiu em quarto simples, comeu junto com os outros padres e bispos... Ele disse - Eu não gosto da solidão!
“Quem a tudo renuncia, tudo receberá”.
A cada gesto e a cada olhar transmitia amor e paz.
“Quisera ter as asas invencíveis
de uma águia para atravessar
as cordilheiras e gritar
sobre as cidades:
O Amor não é amado!
O Amor não é amado!
Como é que os homens podem amar
uns aos outros se não amam o Amor?
Senhor fazei de mim um instrumento de vossa paz.
 “Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.”
                                                                                         São Francisco de Assis
Obrigado Papa Francisco por sua coragem
Por incluir os filhos de mãe solteira no seio da igreja, reafirmando que ali é um templo e não um cartório.
Obrigado por respeitar os homossexuais.
“Todos os seres são iguais, pela sua origem,
seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final”.
São Francisco de Assis
Obrigado Papa... Pelo seu senso de humor, quando falou que o Papa era Argentino mas Deus era Brasileiro! Por acreditar que os jovens devem ser contestadores, comentando sobre as manifestações no Brasil.
Mas o meu maior obrigado é por sua santidade ter insistido constantemente em beijar, de maneira tão carinhosa, as nossas crianças. Sabe Deus quanto sacrifício essas mães fizeram para ficar próximas da sua paz e do seu carinho.
Vimos caírem de seus olhos algumas lágrimas quando um garoto de nove anos o abraçou, também chorando, dizendo que o seu sonho era um dia ser padre. O Brasil inteiro, nesse momento, chorou junto!
Depois dessa visita todos os lugares que frequentei, só ouvi uma voz... É um verdadeiro representante de cristo.
Obrigado Papa Francisco. Por ter me aproximado novamente do Cristianismo!
                                                           Armando Sérgio da Silva
                                                              Inverno de 2013

.

CAFÉ NA CASA DA VOVÓ



CAFÉ NA CASA DA VOVÓ
Era um domingo na casa térrea da vovó, que tinha ficado muito grande e, até certo ponto, perigosa. Ela teria que mudar-se para um pequeno apartamento. Estava um pouco tonta porque tinha que se desfazer de muitas coisas que não cabiam no apartamento novo. Para despedida programou um café noturno e chamou todos os filhos e netos. 
Cada um se acomodou em uma poltrona na sala de visitas e a avó foi para a cozinha preparar o café. Depois de um tempo veio o chamado: Está servido!
Chamou três vezes e nada... Foi até a sala e a cena era, mais ou menos essa: Os filhos com “tablets”, duas netas assistindo TV e o neto de quatro anos com um celular. 
Sentou-se junto à mesa olhando livros dos quais teria que se desfazer... “Obras completas de Monteiro Lobato”, Machado de Assis, José de Alencar, etc.  Para cada obra um olhar entristecido, ela que havia lecionado literatura no colégio.  Observou as duas netas que assistiam na televisão uma cena violentíssima de massacre de traficantes.
Disse imediatamente: - Não quero que vocês vejam isso!
A neta menor pegou o controle remoto e mudou de canal... Sintonizou uma novela.
A mais velha disse: Tá bom assim, vó?
A avó: É melhor.
Na novela acontecia a seguinte cena:
Irmã 1: - (para a irmã 2): - Você é uma vagabunda! (Cospe no rosto da irmã 2 e a esbofeteia violentamente)
A avó (perde a paciência): - Ou vocês vêm já tomar o café ou eu juro que vou jogar tudo fora!
Todos imediatamente interromperam suas “tarefas” e sentaram-se à mesa. Ela olhou as pilhas de livros que estavam sobre a mesa do lado e desabafou: - Para onde eu vou vocês sabem, não cabem estes livros... Eu pensava em distribuir para vocês, meus netos!
Um das netas disse:- Velharia vó o que é que nós vamos fazer com isso?
A avó (ainda insistindo) – Você meu netinho ainda pouco estava perguntando o que eram e como seriam as cerejas. Se você olhar aqui (pegando o pesado dicionário Aurélio), você vai saber o que são.
O neto de quatro anos, tira do bolso um pequeno celular e dá um comando de voz:- Google now! Cereja! Logo aparecem no celular várias imagens de cerejas e todas as especificações da fruta!
Todos caem na gargalhada, inclusive a avó.
A avó: - Como amanhã não haverá aulas, vocês querem dormir aqui?
Todos os netos juntos: Queremos... Queremos!
Os pais consentiram e se foram.
 Agora era a última tentativa da avó. Preparou vários cantinhos, no quarto grande. Acendeu uma luminária bem fraquinha e esperou eles se acomodarem.
- Olhem bem para mim. Vou contar histórias para vocês dormirem...
Os três netos grudaram os olhos nela.
A avó: - Vou falar das histórias que estão escritas naqueles livros da sala.
Falou das Reinações de Narizinho; do amor entre Cecí e Peri e dos olhos dissimulados de Capitu. Deixou para o fim as lembranças da tataravó que narrava a vida em Mogi das Cruzes de antigamente. De como as pulgas atacavam as pessoas durante a noite, de como a luz de vela fazia as pessoas morrerem de medo dos fantasmas, das portas fechadas todas as noites às oito horas quando o funcionário da prefeitura apagava os lampiões da rua.
Quando ela percebeu os três dormiam. Fechou os olhos e também dormiu profundamente.
Quando despertou. Os netos já não estavam mais nas camas. Levantou-se assustada e foi procurá-los.
Chegando à sala deparou-se com a seguinte cena... Eram três pilhas de livros, cada um deles sentado em cima de uma delas.
O neto mais novo disse num grito:- Vovó já dividimos tudo.
- Um dia nós vamos ler estas histórias tão bonitas, disse a neta de onze anos.
A avó não aguentou e começou a chorar... Abriu os braços e pediu:- Abracem-me, por favor.
Os três netos correram a abraçaram carinhosamente. Nossa crônica termina com uma foto dos quatro abraçados... Passado, presente e futuro em um só enquadramento. No rosto da avó... Um sorriso esperançoso!
Caro leitor: Os exemplos que vêm da pesquisa científica são incríveis – leituras cerebrais demonstram que quando alguém ouve uma história, seu cérebro se alinha com o do narrador.
É por isso que eu continuo escrevendo... Minhas Histórias!


                                                                                         ARMANDO SERGIO
                                                                                         FIM DA PRIMAVERA DE 2013





ORAÇÃO DA CRIANÇA NA ÉPOCA DE NATAL

ORAÇÃO DA CRIANÇA NA ÉPOCA DE NATAL A criança de sete anos está ajoelhada perante uma imagem do Cristo. Seus olhos estão tristes! Se chegássemos bem perto dos seus lábios poderíamos ouvir: Meu Deus! Eu sou pequena e frágil, mas eu sou esperta, Eu sei muito bem quando o Senhor está presente aqui, junto com a gente. Neste natal eu não quero brinquedinhos... nem boneca, nem bola nem nada. Neste natal eu vou pedir outras coisas. Coisas que eu acho mais importantes. Meu Deus! Faça com que meus pais nunca briguem. Às vezes eu acho que nem eles sabem porque estão brigando. Quando isto acontece, eu fico muito triste, eu tenho medo, não sei bem o porquê é que eu gosto muito deles Meu Deus! Faça com que a minha Escola seja gostosa e alegre, Eu sou tão curiosa, eu gosto tanto de aprender Sobre as coisas que o Senhor Colocou no mundo É que, por muitas vezes, a professora fala de coisas que eu não entendo, porque estão tão distantes de mim! E ela sofre e eu também sofro, Talvez seja porque nós, eu e a professora ficamos falando sobre coisas que nem o Senhor deu tanta importância. Eu queria que ela olhasse no meu rosto e dissesse: - Vamos falar sobre o que há de bom nesse mundo do Senhor. Eu queria também ter a coragem de olhar bem no olho dela e dizer o quanto ela é importante, o quanto eu a amo e daí eu abraçaria bem forte e a beijaria porque eu tenho a certeza que ela também iria dizer que me ama! Meu Deus! Faça com que eu e a minha professora tenhamos essa coragem! Outro dia eu vi na televisão um político que falava tão bonito! Eu fiquei encantada com as coisas que ele disse que ia fazer! No dia seguinte ele estava sendo preso! Meu Deus! Não deixe que os políticos roubem o dinheiro da merenda das crianças! Eu sofro muito quando vejo, na TV, os meninos magrinhos e barrigudinhos, quase, morrendo de fome! Meu Deus! Não deixe as crianças desse mundo sofrerem! Senão elas vão ficar levando coisas ruins de um lado para o outro para conseguirem um dinheirinho! Meu Deus! Não deixe que as pessoas destruam as coisas bonitas que o Senhor fez: Os bichinhos, as águas, as plantas, o ar que eu respiro todos os dias, e também a criança que eu sei muito bem que O Senhor acha que é uma das Coisas mais bonitas do Mundo! Meu Deus! Eu estou com muito medo de viver aqui no mundo! Ando um pouco triste com as coisas que eu ando vendo. Por isso é que eu não estou pedindo brinquedinhos. É por causa disso que eu estou agora aqui ajoelhada aos seus pés, falando bem baixinho só para o senhor ouvir! Meu Deus! Faça com que eu fique Sempre alegre e feliz! Não deixe, por favor que eu seja contaminada pelo mau humor e a tristeza de alguns adultos Meu Deus! Livrai-nos de todo o mal deste mundo! Amém. P.S.: Tudo o que eu falei é o melhor presente de Natal que eu quero este ano! Armando Sérgio da Silva

E AGORA JOSÉ PACÍFICO?



E AGORA JOSÉ PACÍFICO?
Fim do ano 2013, José Pacífico está sentado em sua poltrona predileta. Nas mãos, um livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade em sua frente uma enorme e novíssima TV.
  Seu nome parecia uma predestinação. Mesmo quando criança ou moço nunca se envolveu em brigas. Já tinha feito de tudo na vida, Médico, Professor, Voluntário para ajudar crianças com deficiência. Resolveu aposentar-se.
Na TV,  RETROSPECTIVA 2013. Algumas manchetes e Pacífico estremece... Muita violência. Olha para o seu livro e o aperta com força no peito. Como se fosse uma taboa de salvação.
O programa começa com as catástrofes naturais no mundo. Nossa culpa... pensou. Volta ao livro, quase sem fôlego: 
“quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?”
O livro escorrega de suas mãos e cai. Cansado volta sua atenção para a TV.

Cenas de protestos nas ruas do Brasil. Êle sorri. É a juventude querendo mudanças. Tudo vai bem mas eis, porém que, de repente, surgem alguns garotos vestidos de negro e encapuzados e começam a destruir tudo o que encontram pela frente. Ônibus são incendiados e continuarão a ser queimados em todos os cantos do país... Até assar  uma garotinha de seis anos. Pacífico afasta-se da TV e procura seu livro: “Você que faz versos,que ama, protesta? e agora, José”?
Volta, com certo receio, a olhar a TV. Cenas do Oriente Médio, matanças em nome da religião... Massacre químico e finalmente guerrilheiros fanáticos estuprando meninas. “Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil”.
Continua ouvindo a TV, mas sem olhar. São tantas as cenas de violência exibidas que acabam ficando banais, sem destaque: Um pai que mata seu filho de três anos... Uma mulher que atropela um casal de motociclistas. Os políticos que seriam a salvação do País, todos em fila presos, algemados.
Algumas lágrimas caem dos olhos de Pacífico. Promete para si mesmo, sussurrando, não vou mais ver a TV!
 Na página aberta:
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Quase cai da poltrona quando anunciam: RETROSPECTIVA DOS ESPORTES: BRASIL CAMPEÃO DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES!
Pacífico aplaudiu e gritou sozinho na sua sala: VIVA!
Logo em seguida cena nas arquibancadas quebra-quebra geral. Alguns torcedores chutam e dão pauladas num outro caído no chão. Logo em seguida, lutadores de UFC com os rostos deformados são entrevistados. As lutas são muito violentas. Mesmo depois de caído um lutador é espancado. Parece que o Juiz só para quando tem perigo de morte. O povo aplaude e grita. Um lutador acaba de quebrar a perna com um chute. Que alegria para a torcida. Pacífico lembra-se dos gladiadores. Séculos de cultura e nada mudou...
Tentou apagar a TV o controle não funcionou. Levantou-se desesperado procurando a tomada para desligar aquele inferno. A TV estava embutida na parede, a tomada atrás dela. Tentou tirá-la da parede... Parecia tão pesada. Esforço total, a TV descola-se. Ouve-se um barulho, escuridão total.
No dia seguinte José Pacífico foi encontrado inerte no chão. Sobre ele cacos de uma tela de TV.
Ao seu lado o livro de Drummond aberto. Seu dedo apontando para o seguinte trecho:
“Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,
sem teogonia, sem parede nua
para se encostar, sem cavalo preto
que fuja do galope, você marcha, José!
José, para onde?”
                                                                          ARMANDO SERGIO DA SILVA
                                                                                         VERÃO 2014





A VIDA NOS LARGOS E NOS QUINTAIS



A VIDA NOS LARGOS E NOS QUINTAIS
Na metade do século passado Mogi das Cruzes era uma cidade repleta de quintais e Largos. A vida acontecia ao redor desses espaços.
 A primeira imagem de quintal da qual me recordo, talvez aos três ou quatro anos de idade, é a de uma negra alta, forte e rechonchuda, estendendo roupas brancas em um varal. O seu canto é agudo, suave... Mavioso. À noite, eu me aninhava no seu colo macio e dormia. Ela cantava suavemente nos meus ouvidos, enquanto me embalava calmamente.
A pré-escola, que naquela época chamava-se Jardim da Infância. Havia o Jardim Dona Placidina, do qual eu me lembro de umas enormes freiras (eu era muito pequeno) censurando-me porque eu não sabia desenhar bolas muito redondas no meu caderno de caligrafia. Minha letra, até hoje, é péssima. O outro Jardim da Infância chamava-se, se não me engano, Monteiro Lobato e localizava-se em outro Largo onde hoje é a Praça do São Benedito. Lembro-me de uma pequena piscina e de um adorável pão com goiabada.
Eu morava ao lado do Largo do Carmo que naquele tempo era de terra batida e as árvores formavam o gol. Ficava o dia inteiro ali tão perto da igreja que acabei entrando para a Cruzada Eucarística. Depois da missa, jogávamos futebol junto com os padres, que sequer tiravam as batinas.

Poucos possuem a sorte de ter uma mãe bibliotecária do município. A biblioteca estava instalada, na esquina do mesmo Largo, em um casarão colonial autêntico, com um quintal enorme, cheio de folhagens e árvores frutíferas. Durante a maior parte da minha infância, era ali que eu ficava durante todas as tardes.
No Casarão, um contato físico e sensorial com livros e, no Largo, o esforço físico e intelectual para vencer meus amigos durante os jogos.
                             No outro Largo, da Igreja da Matriz ficava e ainda está por lá a Escola Coronel de Almeida. Dessa escola primária ficaram apenas os carinhos de algumas professoras, um honroso segundo lugar no diploma e uma menina bonita que se sentava na segunda carteira.  
A passagem do curso primário para o ginasial, entretanto, provocava, naquele tempo, uma mudança radical em nosso comportamento. Para começar, havia o dificílimo exame de admissão. A tradição confirmava que, dali em diante, podíamos aposentar as calças curtas e usar as compridas. Com terno cáqui, camisa branca e gravata preta, parecíamos pequenos adultos.  Mudei de casa e fui morar em outro Largo que também era de chão batido para que pudéssemos jogar futebol, chamava-se Largo da Cadeia muito próximo de minha nova escola... O Instituto de Educação Dr. Washington Luís, centro de irradiação cultural, social e esportiva da cidade.
Das aulas, não tenho muito que dizer; apenas que os professores eram muito rígidos e tradicionais e que a filosofia reinante era a do ensino intelectualizado e elitista. O currículo incluía duas línguas vivas (o francês e o inglês) e uma língua morta (o latim).
Eu permanecia na escola, praticamente, em tempo integral. Muitos jogos, bailes, namoros (um dos quais dura intenso até hoje) e a melhor fanfarra do Brasil, da qual muito me orgulho de ter sido o corneteiro-mor.
"Bolávamos" e executávamos, aos sábados, um espetáculo de variedades chamado de “Programa Estudantil”. Eu participava da criação, era um dos alunos da “Escolinha de Grupo” e gostava de dublar o Elvis Presley, de quem imitava, também, as exageradas expressões corporais, incluindo sua famosa pélvis ondulante da qual, segundo não sei quem (acho que foi Paulo Francis), nasceu uma parte da esquerda, pós-64, no Brasil.
À noite íamos fazer o “footing” e flertar em outro Largo que chamávamos simplesmente de Jardim, visto que era o único com a vegetação cuidada.
Se for verdade que quanto mais pessoal mais universal nos tornamos, espero que o leitor daqueles tempos tenha sentido alguma identificação com as minhas lembranças e que os mais jovens possam imaginar como era simples e cheia de sensações a vida nos Largos e Quintais de Mogi das Cruzes.
                                         Armando Sérgio da Silva
                                             Carnaval de 2014