quinta-feira, 10 de setembro de 2015

WASHINGTON LUIS - JOGO DE FOTOS...



Senhores, todos sessentões, sentados em volta de uma mesa com pano verde. É o dia da semana reservado para a “caxeta”.
Seria um dia comum, entretanto um deles sugeriu que, em vez de cartas, naquele dia jogassem fotos. A tarefa já tinha sido definida na semana anterior. Deveriam buscar nas suas gavetas. Ganharia pontos quem escolhesse as melhores fotografias dos tempos de escola. Todos haviam estudado no Instituto de Educação Dr. Washington Luis.
Cada um, com suas fotos devidamente escondidas sob a mão, iniciaram o jogo.
Foto na mesa. Sala de aula, classe mista, os meninos de terno cáqui e as meninas de saia plissada azul marinho e blusa branca.
Senhor levanta a mão.
- O IEWL transformou minha adolescência em um vendaval de prazeres. Para começar, havia o dificílimo exame de admissão. A tradição confirmava que, dali em diante, podíamos aposentar as calças curtas e usar as compridas. Com terno cáqui, camisa branca e gravata preta, parecíamos pequenos adultos.
 Os professores eram muito rígidos e tradicionais e a filosofia reinante era a do ensino intelectualizado e elitista. O currículo incluía duas línguas vivas (o francês e o inglês) e uma língua morta (o latim).
Foto na mesa. Palco iluminado alunos sentados em carteiras com gestos caricaturais.
Outro senhor mais que depressa... Dessa eu me lembro muito bem.
- "Bolávamos" e executávamos, aos sábados, um espetáculo de variedades (quantas variedades, desde monólogos até números instrumentais), chamado de “Programa Estudantil”. Eu participava da criação, era um dos alunos da “Escolinha de Grupo” e gostava de dublar o Elvis Presley. Ai foi o início do TEM – Teatro Experimental Mogiano que tantas glórias trouxe à cidade.
Foto de um baile no Itapety Clube
Um senhor que se mantivera calado pede a palavra
- Bailinho do Instituto... Ali aconteciam os namoros, tudo ao som dos “The Platers”, do Paul Anka, da Bossa Nova, do Elvis, do Nat King Cole e da Banda Hi-Fi Mogiana. Não sabíamos ainda que no futuro estaríamos quase todos, casados e ainda habitaríamos a nossa cidade.
Uma foto pequena, em preto e branco. Um time de basquetebol muito jovem atrás arquibancadas apinhadas de outros jovens que parecem ovacionar os primeiros.
Um senhor sorrindo...
-Esta foto nem precisa ser comentada afinal nós aqui nos reunimos por mais de vinte anos por causa dessa foto... Somos a Turma do Basket.
Foto enorme, em preto e branco. Vale do Anhangabaú. Os garotos, garbosamente, desfilam vestidos “à La West-Point”. As moças graciosamente desfilam “à lá escocesas”. Elas estão maravilhosas com as pernas de fora... No segundo plano da foto vê-se nitidamente o povo e, no meio do povo, os pais aplaudindo freneticamente seus meninos.
Senhor faz um ligeiro comentário
- Tenho a honra de ter sido um corneteiro da maior fanfarra do Brasil.
Duas fotos uma de uma placa Grêmio Estudantil Ubaldo Pereira a outra dezenas de garotos olham de maneira esperançosa para a câmera. Estão felizes, vejam-se os largos sorrisos...
O mesmo senhor emocionado: - Época sombria, por volta de 1964, a polícia invadia o Washington Luís e retirava alunos de dentro da sala de aula, na frente de seus professores, para levá-los para a cadeia. Época da ditadura. O GEUP é extirpado. Cortam todas as nossas raízes. Cortam a iniciativa e a criatividade de toda uma juventude.  
Tem mais fotos?
Um dos presentes, que estava de pé ao lado da mesa, disse;
- Sim eu tenho mais uma.
Todos – Joga então.
- Antes eu queria fazer meu comentário. O Instituto foi o fato mais importante de nossa juventude. Aliás, foi uma das coisas mais importantes que aconteceram em Mogi das Cruzes. Aí está minha foto.  Um palco com muitos jovens, uma professora e um professor posando para a câmera.
Ninguém levantou a mão.
O senhor que estava de pé – Eu sabia que ninguém ia comentar. Esta foto foi tirada há uns meses atrás. São os atuais alunos do Washington que montaram “A Exceção e a Regra” de Bertolt Brecht. Uma homenagem aos antigos alunos que fundaram o Teatro Experimental Mogiano. Como podem ver continuam sendo professores dedicados e alunos idealistas. Graças a Deus que o Instituto de Educação Dr. Washington Luis continua sendo um dos principais centros de irradiação cultural de Mogi das Cruzes.
O jogo continuou noite adentro. Aqueles senhores, naquela noite, reviveram tempos em que eram independentes, esperançosos e principalmente... Felizes!
                                                                  ARMANDO SERGIO DA SILVA
                                                                                 INVERNO DE 2015

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