A PERSONAGEM
Um
dos principais motivos que estão levando as pessoas saírem em manifestações
pelas ruas destes pais, acredito estar ligado à história que agora começo a
contar:
O
despertador toca as sete, em ponto. No
cabide está seu terno, impecável. Veste-se calmamente, senta-se na copa e
enquanto saboreia o desjejum, lê as principais manchetes do jornal. A base de
sua profissão é a informação. Sai a pé pela rua. Seu salário permitiu que comprasse
uma boa casa, tão perto que, em cinco minutos, pode chegar ao trabalho.
Enquanto caminha, ele pensa na importância de seu ofício. Passa pela casa do
juiz, a do promotor publico. São casas muito semelhantes à sua. Logo após, a
casa da professorinha de piano que executa Vila Lobos. Ele sente, através das
janelas entreabertas, os olhares de admiração de seus vizinhos. Na quitanda, os
proprietários orientais, ao vê-lo, saem à porta e sorridentes o reverenciam. Pensa.
Eu sou útil para a minha comunidade. Lembra-se de que no Japão o imperador
somente se inclina para os professores... País adiantado.
Chega
ao seu local de trabalho. Na sua sala recebe os cumprimentos, respeitosos, de
mais ou menos trinta jovens. Conversa tranquilamente com eles sobre a
intolerância... Cita o trecho final de Romeu e Julieta... E, muitos outros
selecionados, a dedo, durante suas horas e horas de leitura. A plateia da
pequena sala se emociona... Todos saem motivados para lerem as indicações e,
principalmente, buscando caminhos para evitar a intolerância. Na área externa,
antes de sair, ainda ouve os afinados tons de cornetas e o repicar dos tambores...é
a fanfarra da escola, a melhor do estado, ensaiando. Depois do almoço, lê
atentamente os papéis escritos pelos jovens e anota comentários em cada um
deles. São seis da tarde, passa pelo Ginásio de Esportes entulhado de jovens,
que torcem pelos seus ídolos do Basquete. Aplaude, com entusiasmo, vencedores e
vencidos. Oito horas... Caminha até o
local onde hoje é o Teatro Municipal, para assistir a um debate sobre a
História Universal... Tema: “Napoleão Revolucionário ou Contra
Revolucionário?”. Alguns dos jovens com os quais havia se encontrado, pela
manhã, são brilhantes em suas argumentações. Sente-se orgulhoso. Terminado o
debate faz seus comentários e depois vai andando para sua casa. Antes de
dormir, lê alguns trechos dos Lusíadas de
Camões. Amanhã vai conversar com seus queridos jovens sobre a formação da raça
brasileira. Fecha os olhos e dorme tranquilo.
Vocês
podem imaginar de quem eu estou falando? Pois é, caros leitores. Falo de meus
professores. Estou falando do perfil de
um professor do ensino público deste Brasil há mais cinquenta anos.
Daí
me perguntam: Porque a educação anda tão ruim, neste país?
E
eu respondo: Porque, aos poucos, ela foi sendo destruída. O penúltimo lugar do mundo
no quesito educação, que vergonha! E o principal motivo foi a derrocada de uma
personagem que, naqueles tempos, como vocês puderem observar, exercia com
dignidade o seu ofício... Porque o professor, sem condições mínimas, não
consegue se instruir e preparar, adequadamente, as suas aulas.
Aos
poucos, uma profissão que era reverenciada passou a ser pisoteada por aqueles
que nortearam os destinos deste país. A tal ponto, que ouvi, certa vez, uma
professora dizer que tinha medo de entrar em uma sala de aula. Disse-me um
professor que não tinha dinheiro suficiente, para ter um imóvel decente perto
de seu trabalho e precisou mudar para
um, barraco na periferia. Hoje um professor deste país, ao andar pela rua,
passa despercebido pela comunidade. A tal
ponto, que ao solicitar crédito entrega ao vendedor, tremendo de medo, o seu
contracheque porque sabe que seu salário não será garantia de quase nada. O
professor perdeu seu grande valor, porque neste Brasil, onde as grandes
estrelas são os corruptos, PARA APRENDER A ROUBAR... NINGUÉM PRECISA ESTUDAR! Então...
VAMOS PARA AS RUAS!
ARMANDO
SÉRGIO DA SILVA/ Inverno de 2013