quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O PROFESSOR - CRÔNICA


O PROFESSOR

Armando Sérgio da Silva

Caros internautas!

Convidado, pela produção do site Cidade Viva, para fazer um comentário nesta pagina, escolhi, como o primeiro, um tema que me parece ser relevante, nos dias atuais.

Nossa personagem, após um dia de trabalho, prepara-se para deitar. Todos estão muito seguros e felizes na sua casa. Afinal, ele pensa, não sou rico, mas ganho o suficiente. Pega um livro... Obras completas de Shakespeare. Abre na página marcada e, antes de pegar no sono ainda consegue ler o final de Romeu e Julieta. Os enamorados suicidaram-se por causa da intolerância de suas famílias. Emocionado dorme... O despertador toca as sete, em ponto. Veste seu terno, impecável, senta-se na copa e, enquanto toma o café, lê as principais manchetes do jornal. A base de sua profissão é a informação. Limpa uma pequena mancha do pára-choque de seu carro e sai, a pé, pela rua. Não precisa de condução. Seu salário permitiu que alugasse uma boa casa, tão perto de seu trabalho que, em cinco minutos, pode chegar. Enquanto caminha ele pensa na importância de seu ofício. Que, se não fosse por sua atuação, o país jamais se desenvolveria. Passa pela casa do juiz e do promotor publico da cidade... Logo após, a casa da professorinha de piano que executa, alguma coisa, de Vila Lobos, a quitanda onde os proprietários orientais ao vê-lo saem à porta e sorridentes o reverenciam. Ele percebe, através das janelas entreabertas, os olhares de respeito de seus vizinhos... O reconhecimento... Eu sou útil para a minha comunidade. Aperta o passo e vai direto para o batente.

Os colegas, impecavelmente trajados, aguardam a hora de ir para suas salas de trabalho. Na sua sala recebe os cumprimentos, respeitosos, de mais ou menos trinta pessoas. Conversa tranquilamente com elas sobre a intolerância... Cita o trecho de Romeu e Julieta... e, muitos outros selecionados durante suas horas e horas de leitura. A platéia da pequena sala se emociona... Todos saem, motivados , buscando caminhos para evitar a intolerância. Na área externa, antes de sair, ainda ouve os afinados tons de cornetas e o repicar dos tambores, uma fanfarra ensaia, disciplinadamente.

Depois do almoço, vai a biblioteca pública e lê durante toda a tarde.

São seis horas, passa pelo Ginásio de Esportes que está entulhado de jovens, que torcem pelos seus ídolos do Basquete. Fim de jogo. Aplaude, com entusiasmo, vencedores e vencidos. Oito horas... Caminha até o local onde hoje é o Teatro Municipal, para assistir a um debate sobre a História Universal... Tema: “Napoleão Revolucionário ou Contra Revolucionário?”. Alguns jovens, de sua sala, são brilhantes em suas argumentações. Sente-se orgulhoso. Terminado o debate faz seus comentários e depois vai andando para casa. Antes de dormir, lê alguns trechos dos Lusíadas de Camões e de Iracema, de José de Alencar. Amanhã, na sua sala, vai conversar sobre a formação da raça brasileira.

Fecha os olhos e dorme tranqüilo...

Vocês podem imaginar de quem eu estou falando? Pois é, caros internautas. Falo de meus professores. Estou falando do perfil de um professor do ensino fundamental deste Brasil há cinqüenta anos atrás. A escola: Instituto de Educação Dr. Washington Luis. A fanfarra campeã do Estado de São Paulo. O time de basquete do qual,humildemente,fiz parte.

Daí me perguntam: Porque a educação anda tão ruim, neste país?

E eu respondo: Porque, aos poucos, ela foi sendo destruída.

E o principal motivo foi a derrocada de uma personagem que, naqueles tempos, como vocês puderem observar, exercia com dignidade o seu ofício...

Porque aos poucos uma profissão que era reverenciada passou a ser pisoteada por aqueles que nortearam os destinos deste país.

A tal ponto, que ouvi, uma professora dizer que tinha medo de entrar em uma sala de aula. A tal ponto, que ouvi de um professor que, devido ao baixo salário, tinha que morar na periferia.

A tal ponto, que hoje um professor deste país, ao andar pela rua, passa despercebido pela comunidade.

A tal ponto, que ao solicitar crédito entrega ao vendedor, tremendo de medo, o seu contracheque porque sabe que seu salário não será garantia de quase nada.

O professor perdeu seu grande valor, porque neste Brasil, onde as grandes estrelas são os corruptos, ninguém precisa estudar para aprender a roubar.

É isso!

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