quinta-feira, 11 de setembro de 2008

OS ANJOS NA CIDADE VIVA - CRÔNICA


ANJOS NA CIDADE VIVA

Era um verão inesquecível. Levantei cedo e resolvi olhar, mais atentamente, minha cidade, Mogi das Cruzes. Máquina fotográfica para não esquecer dos detalhes. Encontrei o zelador.

- E aí? (eu disse) Como vão as coisas?

Sem me olhar ele respondeu:

- Ta tudo perfeito.

- O que está perfeito, eu perguntei?

- Tudo... Ta tudo perfeito!

- Está de mau humor, eu pensei com os meus botões, não quer conversar.

Chovia na Avenida dos Bancos. Nada da terrível enchente que eu fotografara anos atrás, focalizando pessoas, em cima das marquises, com expressões de desespero. Ao contrário via passar os mogianos, todos muito bem vestidos, com seus guarda-chuvas coloridos. Alguns carros deslizavam sobre o asfalto. Paravam nas faixas de pedestres e esperavam os passantes passarem. Os comerciantes, dentro de suas lojas, sorriam e vendiam com pujança suas mercadorias. Os garotos, todos uniformizados, corriam em bandos alegres para as escolas. Os pais, todos bem empregados, olhavam com orgulho seus filhos motivados por professores animados e de competência invejável. Em sobressalto perguntei a uma senhora que esperava um ônibus:

- Onde está a multidão que eu vira anos atrás? Aquele trânsito infernal! Moleque tomando conta de carros? Pessoas acumuladas nas calçadas, dando encontrões umas nas outras?

Ela sorriu e disse:

- O senhor não sabe que foram incentivados grandes investimentos nos bairros? Empregos, conjuntos habitacionais, escolas de alto nível, centros culturais, um grande comércio etc. Isto diminuiu muito a movimentação aqui no centro. Hoje os bairros são pequenas cidades com uma administração própria. Não sabe que existe lá, como aqui, uma excelente qualidade de vida?

Confesso que fiquei envergonhado por minha ignorância. Como eu ia imaginar, em tão pouco tempo...

Num hotel das redondezas li uma faixa fenomenal: “Hoje! Grande Comemoração pelo Prêmio de Produção Nacional Conferido a Indústria Mogiana conveniada com as Fundações de Pesquisa das duas Universidades locais”.

Rua José Bonifácio, policiais, sem arma no coldre, sorrindo para os passantes e ajudando alguns idosos e deficientes a atravessarem as ruas. Uma criança correu em direção a um jovem policial e, de um pulo, o abraçou e o beijou. Tirei uma bela foto. A criança e o policial abraçados e o cenário da cidade... limpa. Sem placas poluidoras, sem aquele emaranhado de fios elétricos... Linda.

Centro Histórico, a primeira coisa que vi foi uma advertência: “Proibido para veículos”. Um silêncio gostoso entrecortado por acordes de músicos que ensaiavam e comentários de artistas plásticos, que produziam e expunham suas obras. Os monumentos e as casas impecavelmente restauradas. Em cada lugar que eu passava tinha referências históricas através de textos ou de imagens. Os jovens alegres e seus professores motivadores se divertiam a valer pelas ruas, aprendendo sobre a história da cidade... Foi emocionante, haviam transformado o local em um verdadeiro museu ao ar livre. Ainda ouvi de um garoto adolescente abraçado à sua namorada:

- Se alguém “pixar” algum desses lugares, vai ter comigo... e recebeu um beijo apaixonado da menina!

Cada vez mais curioso, andei até o Centro Cívico. Havia ali um pavilhão com a exposição de nossos produtos agrícolas e de granjas. Os produtores orgulhosos comentavam, entre si, que jamais tinham alcançado tamanha qualidade e quantidade de produção. Dava gosto de ver a fartura de alimentos. Andei poucos metros e finalmente vi o Centro Cultural e Educacional de Mogi das Cruzes, suas imponentes torres com os sinos badalando, sem parar, ao anunciar os eventos. No saguão as bandeiras dos bairros. Nas salas, jovens provenientes dos mesmos bairros, estudando para depois formarem grupos de arte em suas comunidades. Nossos grandes e consagrados artistas ensinado aqueles garotos. Confesso que chorei de emoção. Sentei-me num banco para descansar... De repente observei andando em minha direção um homem. Eu tinha certeza, que o conhecera mais velho, mas, estranhamente, estava muito jovem na minha frente... Era alguém por quem eu tinha muito afeto. Parecia que ele flutuava na minha frente. Estremeci... Era o meu amigo, o pintor Darcy Cruz quando jovem... Ele sorriu e disse: - Professor! Corremos e nos abraçamos.

Ele me perguntou:

- Onde é que você andou? Ouvi dizer que esteve doente? Que ficou algum tempo em recuperação?

Eu respondi: Não sei não me lembro. Diga-me uma coisa... O que houve?

Darcy olhou-me como só ele sabia olhar sorriu, mais uma vez, e respondeu:

- As coisas mudaram...

Eu disse ansioso:

- Desde quando?

Ele sentou-se, ao meu lado e revelou:

- Tudo começou em 2007, no mês de outubro... Foram nomeados e eleitos 24 Anjos da Guarda, que formaram um grupo chamado Conselho dos Conselhos... Para ajudar no planejamento da nossa Mogi das Cruzes. Daí em diante tudo mudou... Ta tudo perfeito!

- Foi tão fácil assim? (Eu retruquei)

- Fácil? (ele disse rindo)

- Me conta a verdade!

- O professor não acredita, não é? ( e riu novamente)

Fiquei alguns instantes, sem mover sequer um músculo, olhando o rosto enigmático do meu amigo, enquanto pensava se tudo aquilo não era um sonho de verão.

De repente, ao mesmo tempo, gargalhamos de satisfação e ficamos ali sentados lembrando dos velhos tempos... A chuva parou e um por do sol maravilhoso descortinou-se na Serra do Itapety. Ainda vimos alguns anjos voarem sobre as nossas cabeças e que depois foram pousar,lá em cima... Na Cruz do Século!

É isso aí!

Armando Sérgio da Silva

Um comentário:

Elisete disse...



Muito bom!!! Obrigada.
"Navegar é preciso..."