“A vida é arte do encontro”
Poeta Vinicius de...
Seus nomes verdadeiros eram
tão comuns que não interessavam. Viviam, cada um, em seu apartamento, na
solidão da grande cidade. Os dois, depois de alguns rápidos relacionamentos, estavam
sem companhia nenhuma. Numa noite monótona resolveram entrar numa sala de bate
papo. Ela colocou o apelido de Venus e ele, logo em seguida, o de Apolo. Conheceram-se através da tecla de um
computador, sem imagens sem sons apenas um texto digitado. Aos poucos foram
preenchendo a chatice de suas vidas com uma euforia sem igual.
Amantes
virtuais... Loucos varridos, sonhadores, atrevidos... Conforme foram se
relacionando a paixão foi gradativamente se tornando, quase que real e, por
isto mesmo insuportável... Quando não se encontravam na sala de bate papo
ficavam ansiosos esperando um pelo outro. Ali as emoções fluíam fortes, intensas
e loucas... Não tinham idade, cheques, cartões de crédito, carteiras de
identidade, rostos, pele, só a mente efervescente da sensualidade delicada feita
de elogios mútuos que variavam de ritmo conforme a digitação. Às vezes pausadas
e mornas outras apressadas e picantes. Estavam doidos na imaginação à procura
do amor. Chegaram à conclusão de que não poderiam viver sem o outro. Depois de
muita hesitação marcaram um encontro. Seria num restaurante romântico, no dia
dos namorados.
E agora?
O que fazer com esse maldito corpo real?
Nem
se lembravam de inúmeras descrições corporais que fizeram um para o outro.
Foi
preciso enfeitar, embalar, perfumar, envolver, com especiarias, os corpos para
que ficassem mais macios, como um urso ou uma leoa de pelúcia. A roupa da
moda... Ele colocou paletó para impressiona-la... Ele que só usava paletó em
casamentos e funerais... Ela varreu o guarda roupa de todas as amigas, da filha,
da avó, da tia freira...
Os
dois tingiram os cabelos, ela porque disse que era loira e ele porque não falou
de seus poucos, mais evidentes, fios grisalhos. Tinham tirado cada um, cinco
anos da idade. Ela correu e fez botox ele tingiu até os pelos do braço e do
peito. Acabaram se vestindo como... Na verdade ambos estavam engraçadíssimos.
Pareciam saídos de um álbum de fotografia. Os dois, como crianças, fantasiaram
- se de amantes e loucos varridos, ingênuos e sonhadores foram ao restaurante
procurar um sentido mais interessante para suas vidas vazias...
A
porta do restaurante era espelhada. Apolo, quando se deparou consigo mesmo, estremeceu.
Disse
a si mesmo – Como eu estou ridículo! Esse não sou eu!
Inseguro
e apavorado afastou-se do restaurante. Mal sabia ele que Venus tivera a mesma
atitude. Triste e com fome resolveu entrar em um restaurante próximo. Enquanto
comia uma massa, sem sentir seu gosto, observou, numa mesa ao fundo, uma mulher
loira e solitária, mas muito atraente.
Apolo
pensou : Acho que ela ficaria ainda mais bonita com os cabelos negros.
Ela,
cabisbaixa, levantou seu olhar. Os dois se fixaram por um instante.
Ele
pensou – Vou ao banheiro e depois vou me apresentar a ela.
Levantou-se
e foi. Quando voltou olhou para a mesa e dela, lá não havia mais ninguém!
Saiu
desanimado e resolveu passar novamente em frente ao restaurante.
Pensou
– E se ela estiver lá?
Na
frente do restaurante tinha um carro branco, com vidros escuros, estacionado. Apolo
notou que havia alguém dentro, mas, achou prudente não ser curioso. Se ele
tivesse se aproximado teria ouvido os soluços de uma mulher que chorava
baixinho no banco do motorista.
Passou
de novo pela porta espelhada e nem olhou. Passou pela janela, parou e viu uma
mesa com um ramalhete de rosas vermelhas. Chegou mais perto e pode ler...
RESERVADA PARA VENUS E APOLO.
Naquele
momento, algumas lágrimas rolaram de seus olhos e Apolo continuou a andar,
solitário, na garoa fina que caia sobre a cidade.
“Embora haja tanto
desencontro pela vida!”
(Moraes)
Armando Sérgio
da Silva
Outono
de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário