quinta-feira, 15 de maio de 2014

GEUP UMA ESCOLA DE VIDA



GRÊMIO ESTUDANTIL UBALDO PEREIRA – UMA ESCOLA DE VIDA

                                                                     Armando Sérgio da Silva*
                                                                                        
São todos adolescentes/crianças. Não assistem televisão e nem jogam videogame. Estão na sala sede do GEUP (Grêmio Estudantil Ubaldo Pereira) dentro da Escola, do Instituto de Educação Dr. Washington Luis. Nas suas dependências, alguns garotos de quatorze ou quinze anos participam seriamente de uma reunião. Decidem crachás, tabelas, horários, normas disciplinares etc. Não se veem adultos na reunião, nenhum professor. Os jovens organizam a maior competição estudantil da cidade. Planejam os campeonatos de todas as modalidades esportivas, desde o Futebol de Salão até o Xadrez. Ali mesmo são delineadas as estratégicas para a participação na BRASCOL e nos JOGOS ESTUDANTIS, competições que movimentarão a cidade inteira. Ali também são escritos os roteiros para o Programa Estudantil, um espetáculo de variedades, que acontece aos sábados no auditório da escola. Mais tarde esses garotos vão fundar O TEM (Teatro Experimental Mogiano) grande orgulho da cidade. Na parede da sede do GEUP uma foto enorme, em preto e branco. O todo mais harmonioso de todos... Vale do Anhangabaú. Os garotos, garbosamente, desfilam vestidos “à La West-Point”. As moças graciosamente desfilam “à La escocesa”. Elas estão agradavelmente chocantes com as pernas de fora... Surpresa agradável naquela época. No segundo plano da foto vê-se nitidamente o povo e, no meio do povo, os pais aplaudindo freneticamente seus filhos. Nota dez em harmonia... Harmonia com o mundo, com o corpo, com o ritmo, com a sua cidade.
As eleições para o Grêmio são disputadíssimas.  São todos adolescentes /crianças que brincam de aprender a cidadania. Ideologicamente, são contra qualquer tipo de opressão e de discriminação. Discute-se quase nada de política partidária. Somos contra qualquer forma de morte e buscamos sempre a vida. Têm as famosas matinês dançantes. Ali acontecem os namoros, tudo ao som  dos “The Platers”, do Paul Anka, da Bossa Nova, do Elvis, do Nat King Cole e da Banda Hi-Fi Mogiana. Não sabíamos ainda que no futuro estaríamos, quase todos, casados e ainda habitaríamos a nossa cidade. Não cansamos de nos ver e de nos curtir. A nossa vida planejada e executada por nós mesmos. O desafio da realização e o prazer da fruição.
Época sombria, por volta de 1964, a polícia invade o Washington Luís e retira os alunos de dentro da sala de aula, na frente de seus professores, para levá-los para a cadeia. Época da ditadura. Somos marginais. O GEUP é extirpado, criam os Centros Cívicos, coordenados por professores com antecedentes políticos dados pelo Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS. Todos temos que assistir às aulas com o título irônico de “Educação Moral e Cívica”.  Cortam todas as nossas raízes. Cortam a iniciativa e a criatividade de toda uma juventude. Ainda não tínhamos avaliado, na época, o que aconteceria com os jovens brasileiros em virtude desse sacrilégio?  
Vejam hoje as avaliações medíocres do ensino brasileiro. Vejam o mundo criado a custa de muito dinheiro e corrupção...Quantos crimes impunes sem um ato de protesto dos jovens brasileiros. Conseguiram transformá-los em “boisinhos de presépio” com as bocas comendo, carne e queijo derretido dentro das lanchonetes, ou entulhados e quase surdos numa danceteria, em geral, muito perigosa!
Analisando agora, no momento em que escrevo, chego a seguinte conclusão:
Naqueles tempos sombrios o GEUP não podia mesmo existir. Pois, como já dissemos nós, do GEUP, do Washington Luís, os estudantes da cidade de Mogi das Cruzes éramos avessos a toda forma de morte... Nós buscávamos a vida em toda a sua plenitude.

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