GRÊMIO ESTUDANTIL UBALDO
PEREIRA – UMA ESCOLA DE VIDA
Armando
Sérgio da Silva*
São todos adolescentes/crianças. Não assistem
televisão e nem jogam videogame. Estão na sala sede do GEUP (Grêmio Estudantil
Ubaldo Pereira) dentro da Escola, do Instituto de Educação Dr. Washington Luis.
Nas suas dependências, alguns garotos de
quatorze ou quinze anos participam seriamente de
uma reunião. Decidem crachás, tabelas, horários, normas disciplinares etc. Não
se veem adultos na reunião, nenhum professor. Os
jovens organizam a maior competição estudantil da cidade. Planejam os
campeonatos de todas as modalidades esportivas, desde o Futebol de Salão até o
Xadrez. Ali mesmo são delineadas as estratégicas para a participação na BRASCOL
e nos JOGOS ESTUDANTIS, competições que movimentarão a cidade inteira. Ali
também são escritos os roteiros para o Programa Estudantil, um espetáculo de
variedades, que acontece aos sábados no auditório da escola. Mais tarde esses
garotos vão fundar O TEM (Teatro Experimental Mogiano) grande orgulho da
cidade. Na parede da sede do GEUP uma foto enorme, em preto e branco. O todo
mais harmonioso de todos... Vale do Anhangabaú. Os garotos, garbosamente,
desfilam vestidos “à La West-Point”. As moças graciosamente desfilam “à La escocesa”.
Elas estão agradavelmente chocantes com as pernas de fora... Surpresa agradável
naquela época. No segundo plano da foto vê-se nitidamente o povo e, no meio do
povo, os pais aplaudindo freneticamente seus filhos. Nota dez em harmonia... Harmonia
com o mundo, com o corpo, com o ritmo, com a sua cidade.
As eleições para o Grêmio
são disputadíssimas. São todos adolescentes /crianças que
brincam de aprender a cidadania. Ideologicamente, são contra qualquer tipo de
opressão e de discriminação. Discute-se quase nada de política partidária. Somos
contra qualquer forma de morte e buscamos sempre a vida. Têm as famosas matinês
dançantes. Ali acontecem os namoros, tudo ao som dos “The Platers”, do Paul Anka, da Bossa
Nova, do Elvis, do Nat King Cole e da Banda Hi-Fi Mogiana. Não sabíamos ainda
que no futuro estaríamos, quase todos, casados e ainda habitaríamos a nossa
cidade. Não cansamos de nos ver e de nos curtir. A nossa vida planejada e
executada por nós mesmos. O desafio da realização e o prazer da fruição.
Época sombria, por volta de 1964, a
polícia invade o Washington Luís e retira os alunos de dentro da sala de aula,
na frente de seus professores, para levá-los para a cadeia. Época da ditadura. Somos
marginais. O GEUP é extirpado, criam os Centros Cívicos, coordenados por
professores com antecedentes políticos dados pelo Departamento de Ordem
Política e Social, o DOPS. Todos temos que assistir às aulas com o título
irônico de “Educação Moral e Cívica”.
Cortam todas as nossas raízes. Cortam a iniciativa e a criatividade de
toda uma juventude. Ainda não tínhamos avaliado, na época, o que aconteceria com os jovens brasileiros em
virtude desse sacrilégio?
Vejam hoje as avaliações medíocres do ensino
brasileiro. Vejam o mundo criado a custa de muito dinheiro e corrupção...Quantos
crimes impunes sem um ato de protesto dos jovens brasileiros. Conseguiram transformá-los
em “boisinhos de presépio” com as bocas comendo, carne e queijo derretido
dentro das lanchonetes, ou entulhados e quase surdos numa danceteria, em geral,
muito perigosa!
Analisando agora, no momento em que
escrevo, chego a seguinte conclusão:
Naqueles tempos sombrios o GEUP não
podia mesmo existir. Pois, como já dissemos nós, do GEUP, do Washington Luís,
os estudantes da cidade de Mogi das Cruzes éramos avessos a toda forma de
morte... Nós buscávamos a vida em toda a sua plenitude.
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