PARA OS MEUS AMIGOS
De tanto
eu falar sobre minha ideia de “Museu de Rua” aqui em Mogi das Cruzes, alguns
amigos começaram a me cobrar, pedindo que eu explicasse melhor o assunto. Eu
continuei argumentando que esta característica histórica da cidade não poderia
ser perdida por ser o nosso maior valor, nossa identidade, nossa cara.
De nada
adiantou... Diziam – Não estamos entendo nada, seja mais claro!
Para a concretização total de um
“museu” deste tipo seria necessário a colaboração de arquiteto, artista
plástico, museólogo, historiador, etc.
Resolvi então, antes que virasse
alvo de gozações, escrever esta crônica, antevendo aspectos bem gerais... Uma
visão superficial de meu sonho.
Abusando
da minha imaginação bolei um passeio por um trecho do “Museu de Rua”. Escolhi a
Rua Dr. Deodato Wertheimer, no trecho em que é um calçadão.
Vamos ao
nosso passeio...
Para a
implantação do museu toda a fiação aérea era agora subterrânea, limpeza total.
Com incentivos fiscais as fachadas das lojas todas pintadas e restauradas.
Primeira
informação:Por que deram este nome a esta importante rua? Ao lado foto do
doutor, logo na entrada do calçadão, trechos de sua vida.
“No ano de 1913, Wertheimer chegou a Mogi das Cruzes, a pedido do então prefeito Francisco de Souza Franco, e instalou um consultório na cidade. Elegeu-se como vereador, prefeito e deputado estadual (1922-24).”
Alguns
passos a mais e pude ver uma escultura mostrando o doutor atendendo aos necessitados,
com o título: “O médico dos Pobres”.
Andei
mais um pouco e me surpreendi com uma pintura, de uma grande artista mogiana,
que mostrava, de maneira realista, um casarão sendo incendiado.
“Em 24 de
outubro de 1930, Getúlio Vargas pôs
abaixo o poder de Washington
Luiz. Tão logo souberam da notícia as
dezenas de getulistas invadiram a casa de Wertheimer e
a queimaram. Preso, o médico recusou-se sempre a delatar companheiros e
detratores. Uma semana depois voltou a Mogi, mas seu ânimo para melhorar a cidade nunca mais foi o mesmo.”
Comecei a
entender a importância deste homem para
Mogi das Cruzes... A rua começou então para me parecer mais pessoal e por isso, ainda mais bonita.
Conforme
caminhava observava nas laterais dos prédios ou em painéis, impressas enormes fotos antigas mostrando do mesmo
ângulo do qual eu as olhava, o passado e o presente. A foto da fachada da
Igreja do Rosário era enorme, na sua frente a Fonte iluminada durante a noite.
Percebi
que nas calçadas havia grandes placas douradas, com desenhos em baixo relevo.
Elas estavam colocadas em lugares que foram referência no passado e os desenhos
mostravam como eram essas fachadas: Hospital Santa Marta, Bar do Lanche,
Palhaço Lanches, Sorveteria Basile, Cantina Mogiana, Bar e Restaurante
Antártica, etc. Era bonito observar as pessoas vendo a história bem embaixo de
seus pés.
No fim da
tarde fui visitar a antiga rodoviária.
Totalmente desapropriada e restaurada parecia um transatlântico flutuando no
meio da avenida.
Havia ali um terraço maravilhoso onde tomei um
gostoso café. Ao lado, uma central computadorizada com todas as informações
sobre a cidade. Documentos, dados estatísticos, fotos de todas as épocas,
filmes etc. Fiquei ali, entretido e apaixonado pelo arquivo, que nem percebi
que havia escurecido.
Voltando
pelo calçadão, tive a maior surpresa do
dia. Conforme os comerciantes abaixavam as portas de ferro notei que, em todas,
havia estampada foto do perfil de pessoas andando. Emocionei-me quando entendi
que era uma reprodução do tradicional “footing” acontecera na década de
sessenta. Conforme eu caminhava e olhava para direita ou esquerda via a fila
dos moços ou das moças. Voltei para casa mais enriquecido, mais orgulhoso de
minha cidade.
Espero
que meus amigos leiam esta crônica.
Armando
Sérgio da Silva
Verão
de 2013
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