quinta-feira, 15 de maio de 2014

PARA OS MEUS AMIGOS



PARA OS MEUS AMIGOS
De tanto eu falar sobre minha ideia de “Museu de Rua” aqui em Mogi das Cruzes, alguns amigos começaram a me cobrar, pedindo que eu explicasse melhor o assunto. Eu continuei argumentando que esta característica histórica da cidade não poderia ser perdida por ser o nosso maior valor, nossa identidade, nossa cara.
De nada adiantou... Diziam – Não estamos entendo nada, seja mais claro!
Para a concretização total de um “museu” deste tipo seria necessário a colaboração de arquiteto, artista plástico, museólogo, historiador, etc.
Resolvi então, antes que virasse alvo de gozações, escrever esta crônica, antevendo aspectos bem gerais... Uma visão superficial de meu sonho.
Abusando da minha imaginação bolei um passeio por um trecho do “Museu de Rua”. Escolhi a Rua Dr. Deodato Wertheimer, no trecho em que é um calçadão.
Vamos ao nosso passeio...
Para a implantação do museu toda a fiação aérea era agora subterrânea, limpeza total. Com incentivos fiscais as fachadas das lojas todas pintadas e restauradas.
Primeira informação:Por que deram este nome a esta importante rua? Ao lado foto do doutor, logo na entrada do calçadão, trechos de sua vida.
“No ano de 1913, Wertheimer chegou a Mogi das Cruzes, a pedido do então prefeito Francisco de Souza Franco, e instalou um consultório na cidade. Elegeu-se como vereador, prefeito e deputado estadual (1922-24).”
Alguns passos a mais e pude ver uma escultura mostrando o doutor atendendo aos necessitados, com o título: “O médico dos Pobres”.
Andei mais um pouco e me surpreendi com uma pintura, de uma grande artista mogiana, que mostrava, de maneira realista, um casarão sendo incendiado.
“Em 24 de outubro de 1930, Getúlio Vargas pôs abaixo o poder de Washington Luiz. Tão logo souberam da notícia as dezenas de getulistas invadiram a casa de Wertheimer e a queimaram. Preso, o médico recusou-se sempre a delatar companheiros e detratores. Uma semana depois voltou a Mogi, mas seu ânimo para melhorar a cidade nunca mais foi o mesmo.”
Comecei a entender a importância deste homem para  Mogi das Cruzes... A rua começou então para me parecer  mais pessoal e por isso, ainda mais bonita.
Conforme caminhava observava nas laterais dos prédios ou em painéis, impressas enormes fotos antigas mostrando do mesmo ângulo do qual eu as olhava, o passado e o presente. A foto da fachada da Igreja do Rosário era enorme, na sua frente a Fonte iluminada durante a noite.
Percebi que nas calçadas havia grandes placas douradas, com desenhos em baixo relevo. Elas estavam colocadas em lugares que foram referência no passado e os desenhos mostravam como eram essas fachadas: Hospital Santa Marta, Bar do Lanche, Palhaço Lanches, Sorveteria Basile, Cantina Mogiana, Bar e Restaurante Antártica, etc. Era bonito observar as pessoas vendo a história bem embaixo de seus pés.
No fim da tarde fui visitar a antiga rodoviária. Totalmente desapropriada e restaurada parecia um transatlântico flutuando no meio da avenida.
 Havia ali um terraço maravilhoso onde tomei um gostoso café. Ao lado, uma central computadorizada com todas as informações sobre a cidade. Documentos, dados estatísticos, fotos de todas as épocas, filmes etc. Fiquei ali, entretido e apaixonado pelo arquivo, que nem percebi que havia escurecido.
Voltando pelo calçadão,  tive a maior surpresa do dia. Conforme os comerciantes abaixavam as portas de ferro notei que, em todas, havia estampada foto do perfil de pessoas andando. Emocionei-me quando entendi que era uma reprodução do tradicional “footing” acontecera na década de sessenta. Conforme eu caminhava e olhava para direita ou esquerda via a fila dos moços ou das moças. Voltei para casa mais enriquecido, mais orgulhoso de minha cidade.
Espero que meus amigos leiam esta crônica.
                                                           Armando Sérgio da Silva
                                                                       Verão de 2013



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